quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

1982 (3)

O trajecto vitorioso da selecção Brasileira nos Mundiais de Futebol iniciou-se em 1958 (Suécia), 1962 (Chile) e 1970 (México), com a particularidade desse período ter coincidido com a carreira futebolística de umas das maiores figuras o futebol mundial, de seu nome Pelé. O sucesso alcançado pela selecção criou no adepto brasileiro um sensação de poderio inesgotável. Em 1974, a selecção brasileira, participou no Mundial de Futebol na Alemanha, mas deparou-se com dificuldades inesperadas e não conseguiu superar a selecção da Holanda na meia-final, sofrendo nova derrota com a Polónia no jogo de atribuição dos terceiro e quarto lugares. Mais que a derrota no nível desportivo, foi o despoletar de um problematização sobre a eficácia do Futebol - Arte, perante as novas metodologias das selecções europeias. Criou-se uma cisão entre os mais conceituados técnicos do futebol brasileiro, surgindo duas linhas de pensamento, uma que defendia a continuidade do estilo brasileiro e outra que procurava uma maior proximidade com a metodologia do sistema de jogo europeu, onde a disciplina táctica e os progressos da preparação física, sobrepunham-se ao improviso do futebol brasileiro.
Na sua participação no Mundial de 1978 realizado na Argentina (o seu eterno rival Sul Americano) o Brasil, comandado por Cláudio Coutinho, técnico seguidor de um tipo de jogo de características mais europeias, privilegiando a força física, ao mesmo tempo que procura introduzir uma maior cientificidade no futebol brasileiro, através da aliança da técnica dos seus atletas com as contribuições da fisiologia e de pesquisas na área do desporto, motivou que alguns jogadores mais técnicos cujas características proporcionaram num passado recente a conquista dos três títulos mundiais fossem excluídos do lote final dos seleccionados. Pese o facto de conseguir um campeonato invicto a selecção não foi além do terceiro lugar.
O período posterior ao Mundial de Futebol de 1978, foi marcado pela indefinição e depois de mais um desaire na Copa América de 1979, Cláudio Coutinho foi demitido do cargo de Seleccionador Brasileiro. A chamada de Telê Santana para ocupar o cargo vago de seleccionador originou o retorno ao estilo mais criativo e artístico que os brasileiros guardavam no seu “baú” das memórias de ouro do futebol”. Os resultados e as exibições alcançados pela selecção sobretudo a partir de 1980 voltaram a criar nos brasileiros e nos adeptos do futebol eminentemente técnico um sentimento revivalista em relação ao Futebol Artístico.
Após alcançar o apuramento para o Mundial de Futebol de 1982, a selecção brasileira deslocou-se à Europa, derrotando três das mais conceituadas equipas europeias de então: Inglaterra, França e Alemanha. A classe da equipa estava provada e a reconciliação entre o povo brasileiro e a selecção era um facto consumado. As quatros vitórias iniciais em pleno Campeonato do Mundo, resultantes da prática de um futebol caracterizado pela classe impar dos seus atletas, a par da capacidade técnica fizeram desta selecção uma referência no mundo do futebol.
O título do filme realizado por Elia Kazan, Esplendor na Relva, poderia caracterizar a classe do Futebol- Arte que a selecção brasileira explanou nos relvados de Sevilha e Barcelona. Todavia na tarde de 5 de Julho de 1982, a derrota pela margem mínima da canarinha, fez ruir todas as concepções do jogo cujo desenrolar dos acontecimentos pareciam ter solidificado. Os responsáveis pelo futebol brasileiro não conseguiram gerir emocionalmente a derrota e a partir desse momento o Brasil adulterou o seu futebol, copiando o estilo europeu, privilegiando o jogador mais atlético, enfim praticando um futebol contra as suas características naturais.

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