quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

1982 ( 2ª parte)

A Memória colectiva é constituída por um conjunto de valores e ideais, que um grupo social partilha. Referindo Pierre Nora” a memória colectiva é o que fica do passado na vivência dos grupos ou aquilo que os grupos fazem do passado”, o qual pode ser fruto de uma experiência individual ou reconstituído e contado pelo grupo ao longo de gerações.[1]
As memórias colectivas assumem diversas formas, tais como as motivações de recordarem em público. Os traumas vividos pelos grupos colectivos que afectam a sua imagem necessitam de um período de tempo, em média de 20 a 25 anos para serem representadas por diversos tipos de manifestações como a criação de monumentos, filmes, ou através de outras manifestações. O esquecimento de acontecimentos traumáticos demonstram igualmente “a necessidade dos grupos e das sociedades possuírem uma imagem positiva sobre si, relegando para o limbo os grandes desaires e os acontecimentos menos abonatórios”.[2] A memória colectiva resulta de um esforço consciente, para que os acontecimentos sejam recordados pela sociedade evitando que entrem numa fase de esquecimento.
Para Roberto DaMatta, o futebol brasileiro não é apenas uma modalidade desportiva com regras próprias, determinadas técnicas e tácticas específicas, ou simplesmente uma manifestação lúdica do homem brasileiro, ou então como é catalogado pelos seus detractores o ópio do povo. Esta modalidade é uma forma que a sociedade brasileira encontrou para expressar, as suas características emocionais, como a paixão, o ódio, a felicidade, a tristeza, o prazer, a dor, a fidelidade, resignação, a coragem, a fraqueza e muitas outras.[3]
Sobre a expressão ópio do povo retirei o seguinte comentário, do trabalho de mestrado efectuado por Sérgio Settani Giglio, Futebol: Mitos, Ídolos e Heróis, p.71, apresentado na Universidade Estadual de Campinas em 2007 ” o futebol em si não é o ópio do povo. Os seus objectivos e regras têm fim em si mesmo. Não podemos dizer que o futebol foi criado para controlar as massas. No entanto pode ser um excelente espaço para aproveitadores, ou seja, aqueles que desejam manipular as massas para benefício próprio”[4] .
Se há uma identidade futebolística nacional, ela pode ser observada quando a selecção brasileira entra em campo. Não importa qual seja a preferência clubista, pois a selecção reúne os adeptos dos diversos clubes rivais em torno de um único símbolo, o Brasil representado pela selecção de futebol, cuja expectativa criada em seu torno originou o ideal (por diversas vezes concretizado) para que os brasileiros joguem num estilo diferente que se convencionou chamar de Futebol-Arte e se opõe ao Futebol-Força, praticado pelos europeus e demais selecções. O genuíno jogador brasileiro tem que praticar o futebol, segundo um determinado padrão, capaz de identificá-lo a partir de algumas características particulares que definem o seu estilo de jogar. “A construção desse estilo de jogo e sua reprodução foi uma forma de consolidar a nossa identidade, pois é por meio desse estilo que somos conhecidos no futebol mundial.[5]
[1] JOÃO, Maria Isabel, Memória, História e Educação,Noroeste,Revista de História, 1, Braga, Universidade do Minho, 2005, P.90.
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[2] Idem. p.88.

[3] http://www.efdeportes.com/efd10/daolio.htm

[4] http://www.ludopedio.com.br/rc/upload/files/175629_Giglio%20(M)%20-%20Futebol_mitos,%20idolos%20e%20herois.pdf
[5] http://www.ludopedio.com.br/rc/upload/files/175629_Giglio%20(M)%20-%20Futebol_mitos,%20idolos%20e%20herois.pdf

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